quarta-feira, 25 de maio de 2011

O poder libertador do palavrão


O escritor Miguel Esteves Cardoso faz uma análise literária do palavrão, libertando-o da sua carga repugnante e ofensiva

"Já me estão a cansar... parem lá com a mania de que digo muitos palavrões, caralho!
Gosto de palavrões! Como gosto de palavras em geral. Acho-os indispensáveis a quem tenha necessidade de dialogar... mas dialogar com carácter! O que se não deve é aplicar um bom palavrão fora do contexto, quando bem aplicado é como uma narrativa aberta, eu pessoalmente encaro-os na perspectiva literária!
 
Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar. Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante. Dizer "Tenho uma verruga no caralho" é inadmissível. No entanto, dizer que a nova decoração adoptada para a CBR 900' 2000 não lembra ao "caralho", não mete nojo a ninguém.

Cada vez que um palavrão é utilizado fora do seu contexto concreto e significado, é como se fosse reabilitado.
Dar nova vida aos palavrões, libertando-os dos constrangimentos estritamente sexuais ou orgânicos que os sufocam, é simplesmente um exercício de libertação.
Quando uma esferográfica não escreve num exame de Estruturas "ah a grande puta... não escreve!", desagrava-se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem-se os palavrões literalmente. É saudável. Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de GT2. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias.

Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma!
Do mesmo modo, quando dizemos "Foda-se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada.
Por ex: quando o Mário Transalpino "descia" os 8 andares para ir á garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda-se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espírito como um tranquilo "Foda-se...!!".

O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta. Os palavrões supostamente menos pesados como "chiça" e "porra", escandalizam-me. São violentos.
Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família, um chiça", sibilino e cheio, pode instalar o terror.

Quando o mesmo pai, recém-chegado do Kit-Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades.

Se há palavras realmente repugnantes, são as decentes como "vagina", "prepúcio", "glande", "vulva" e "escroto".
São palavrões precisamente porque são demasiadamente ínequívocos... para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas".

Todas as palavras eruditas soam mais porcas que as populares e dão menos jeito!
Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? Tira a vontade a qualquer um!

Da mesma maneira, "masturbação" é pesado e maçudo, prestando-se pouco ao diálogo, enquanto o equivalente popular "esgalhar o pessegueiro", com a ressonância inocente que tem, de uma treta que se faz com o punho, é agradavelmente infantil.
Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá.
Eu faço o que posso.

Miguel Esteves Cardoso

8 comentários:

  1. ainda me lembro de 1 padre dizer que falar asneiras é um habito e tradição e não um pecado ....

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  2. kkkkkkkkkkk
    E o padre tinha razão, acho que ninguém considera pecado, apenas algumas pessoas consideram falta de educação, falta de chá, grosseria, essas coisas.
    Beijinhos

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  3. Gostei muito deste poema kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk .
    Heinnn ???
    Bjs

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  4. Live:
    O poema é muito português kkkkkk
    Concordo com tudo o que ele diz rsrsrs
    Bjinhos

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  5. Foda-se que eu gosto pra caralho do MEC!!!

    O gajo escreve e pensa bem:)

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  6. M
    Tenho de concordar contigo, o gajo é bom pra caralho, porra...
    Bjinhos

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  7. O palavrão pode até ser libertador, mas não pode fazer parte do vocabulário de uma pessoa. É muito constrangedor em certos momentos proferir certas palavras. A violência do dia-a-dia é muito grande e os palavrões contribuem para aumentar essa violência em muitos momentos. Já vimos muitas tragédias por causa de palavrões. É melhor utilizar sempre o bom senso!!!

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  8. Luis Hipolito
    Tem razão, não pode ser a toda a hora e muito menos com raiva, só unzinho de quando em vez pra desopilar kkkkk
    Beijinhos

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